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Exploração Espacial: a verdadeira guerra nas estrelas



Quando falamos em espaço, a primeira imagem que vem a nossa mente são filmes de ficção científica sobre alienígenas ou naves espaciais. No entanto, não lembramos que o espaço, desde a incessante corrida durante a Guerra Fria, passou a ser cada vez mais foco de investimentos com a criação de novos produtos e de um novo mercado, estabelecido como uma grande fonte de recursos - não mais apenas fonte para o imaginário hollywoodiano.


Um panorama histórico nos leva à corrida espacial na Guerra Fria, em que os governos americano e russo se consagraram como os grandes nomes da exploração espacial. Naquele momento, o essencial não era lucrar em cima do espaço, mas, sim, dominá-lo por meio da chegada à Lua. Desde aquela época, mesmo após o fim do conflito, a exploração foi mantida sob o domínio dos Estados, com a constante entrada de novos personagens, como as agências espaciais europeia, indiana, chinesa, as quais mantiveram o monopólio sobre viagens espaciais por meio de fortes barreiras regulatórias, tanto por questão de segurança quanto de manutenção do poder, o que limitava o avanço do setor privado.


Contudo esse cenário passou por grandes transformações nos últimos anos: tendo como protagonista o multibilionário Elon Musk. Sua empresa, a SpaceX, abriu espaço para a entrada oficial de empresas privadas no setor. Conhecida pelo desenvolvimento de foguetes e satélites, ela representa o foco dos investimentos destinados a este mercado ainda em fase de estruturação.


O marco para a disputa comercial do espaço ocorreu no ano de 2008, quando a SpaceX realizou o primeiro lançamento privado, com sucesso, de um foguete na órbita terrestre: o Falcon 1, que, anos depois, em 2018, daria origem ao foguete Falcon Heavy. Considerado o futuro da exploração espacial, ele foi desenvolvido por US$500 milhões com custo de lançamento de $90 milhões - um preço extremamente barato, cerca de apenas 5% do que a Nasa (Agência Espacial Americana) gastou no desenvolvimento de um modelo semelhante, e somente 9% do que esta estima gastar com o lançamento.


Esse fato deve-se especialmente ao modelo de negócios das empresas privadas desse setor, marcado por grandes investimentos em modernização para reutilização de componentes. Isso, porque, em um mercado com cada vez mais players, o diferencial tem como base a capacidade do empreendimento de diminuir custos e atrair a atenção das empresas governamentais, as quais mantém enorme poder sobre os avanços no espaço, uma vez que continuam sendo os principais investidores no ramo, especialmente para transporte de carga. A exemplo disso, tem-se o contrato de US$2.6 bilhões da Nasa com a empresa de Elon Musk para seis missões até a ISS (Estação Espacial Internacional), sendo que uma delas, em 2020, foi responsável por levar astronautas para a órbita pela primeira vez em um foguete de uma empresa privada, a Crew Dragon Demo-2.


Além desse contrato, a Nasa tem outro semelhante, com o valor estimado em US$ 4.2 bilhões e com um player mais conhecido pelo mercado: a empresa de aviação Boeing. Esta, que possui o consórcio United Launch Alliance com a empresa Lockheed Martin - forte nome no setor aeroespacial -, tem destaque no ramo de lançamento de foguetes, e já está alocada em novos projetos da Nasa com outras importantes fabricantes, como a Blue Origin, empresa do multibilionário Jeff Bezos, o qual renunciou ao cargo de CEO da Amazon para viajar ao espaço como turista. Tal atividade, orientada ao turismo é, além do transporte de cargas, um dos grandes focos das corporações aeroespaciais.


Pautada na rivalidade entre multibilionários, o turismo espacial permanece dominado por três nomes: Elon Musk com a SpaceX, Jeff Bezos com a Blue Origin e Richard Branson com a Virgin Galactic. Apesar da primeira empresa se conservar como referência em tecnologia e desenvolvimento neste novo setor, Bezos planeja ir ao espaço ainda em 2021 com seu irmão e um comprador misterioso, que gastou US$28 milhões por um bilhete para embarcar.


Desse modo, vemos que, por mais que custos venham diminuindo, com viagens futuras estimadas em menos de meio milhão de dólares a partir das inovações de economia de componentes, esse universo segue restrito a apenas uma pequena parcela da população. No entanto, tal fato não impede investimentos no setor, de forma que, após a Virgin Galactic conseguir uma aprovação federal para levar passageiros em viagens espaciais, suas ações fecharam em alta de 39%, alcançando o maior valor desde sua abertura de capital.


Aliás, outros dados evidenciam que esses investimentos tendem a crescer, principalmente se as viagens de Bezos e Branson decolarem com sucesso em 2021. Somente até o começo deste ano, venture capitalists já investiram cerca de US$4.5 bilhões em 77 empresas do setor espacial. Além disso, em comparação com a última década, os investimentos no espaço cresceram por volta de US$187 bilhões em mais de 1500 companhias.


Fonte: Statista


Todavia, embora o cenário pareça favorável, há muitos entraves em relação à segurança dessas viagens. Não se sabe até que ponto empresas poderão entrar nesse mercado e quem regulará, num futuro próximo, esta entrada, visto que o Tratado do Espaço Sideral considera o espaço um bem internacional. Inclusive, esta preocupação tem origem no mercado de satélites, intensamente pulverizado e passível de problemas, como o acúmulo de lixo espacial gerado por objetos obsoletos.


Em um setor cuja receita global, em 2019, superou os US$366 bilhões, os satélites têm usos infindáveis, de telecomunicação à captura de dados para geolocalização, sendo, assim, indispensáveis para a economia do futuro. Apesar dos diversos segmentos e modelos que compõem este mercado, o potencial de expansão está nos smallsats (5G) e nos dados em nuvem, os quais têm capacidade para gerar uma receita de US$16 bilhões até 2029.


Novamente como protagonista, a SpaceX tem um plano ambicioso: lançar 42 mil satélites em órbita. Com este número, que parece quase absurdo, Musk pretende levar internet para o planeta todo, por meio do Projeto Starlink, uma constelação de satélites de órbita baixa. Ainda que atrás de Musk, outros nomes como a Blue Origin, a OneWeb e a Telesat aparecem em voga, assim como Amazon e SoftBank na parte dos investimentos.


Entretanto, o problema é a falta de espaço, já que, com a expansão desse mercado, impulsionada pelo modelo de reutilização de partes dos foguetes, empresas passaram até a comprar áreas ao redor da Terra para seus futuros lançamentos. Aliado a isso, temos a questão já citada do lixo espacial, o qual ameaça, também, a viabilidade dos projetos.


Fonte: Statista


Por fim, constata-se que, embora a ida à Marte seja a maior meta atual da exploração espacial, o que movimenta a economia espacial é, na verdade, a órbita terrestre. Além disso, foguetes e suas cargas, sejam elas satélites ou humanos, ainda tem um enorme potencial de crescimento – e, quem sabe, em breve, este mercado não esteja mais exclusivamente concentrado nas mãos dos multibilionários?

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