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O impacto das fintechs no setor bancário nacional


O setor financeiro brasileiro vem passando por transformações nos últimos anos. Se, antes, o cenário de serviços financeiros era marcado por um caráter extremamente conservador, e dominado exclusivamente pelos principais bancos comerciais tradicionais, hoje as fintechs estão revolucionando esse mercado.


O movimento no Brasil é recente e vem ganhando força, presentes no país, desde meados de 2013,os novos players do segmento oferecem maior praticidade e menor burocracia. Seus produtos e serviços são ofertados através de plataformas totalmente digitais, como os aplicativos para celulares e tablets, sema necessidade de ir a uma agência, evitando deslocamentos e filas. Dentre os serviços oferecidos estão: abertura de contas correntes, empréstimos, e cartões de créditos sem tarifas, entre outros.


Além disso, a vantagem principal das fintechs está no fato de elas conseguirem oferecer serviços com preços, taxas e cobranças mais baixos do que as Instituições financeiras tradicionais. Isso se dá por conta da tecnologia, que permite às startups financeiras trabalharem com uma estrutura menor, total ou parcialmente on-line, consequentemente sem a necessidade de gastos com pessoal e locação de espaços.


De acordo com um relatório produzido pelo FintechLab, importante hub desse ecossistema, atualmente, o Brasil possui 250 fintechs em operação e metade delas já faturam mais de R$1 milhão de reais. Um ponto interessante, que justifica parte do boom dessas empresas, concentra-se em sua estratégia de explorar um nicho que não interessava muito às Instituições financeiras tradicionais: o público mais jovem; assim, abrindo espaço para seu crescimento sem a necessidade de um confronto direto com os grandes bancos. Um estudo realizado pela Deloitte, “The Rise of Millennials”, demonstrou que 60% dos jovens entre 20 e 35 anos acreditam que os produtos financeiros não são pensados para eles. Dessa forma, as fintechs, ao considerarem um nicho pouco explorado, oferecendo tratamentos e serviços voltados para o público com esse perfil, conquistaram uma parcela notória do mercado, alcançando um diferencial que trouxe resultados positivos.

No entanto, não é somente entre os jovens que o segmento vem ganhando espaço no país. Os idosos conferem outro público com grande adesão às startups financeiras. Segundo uma pesquisa global realizada pela consultoria EY, os mais velhos têm uma adesão maior a serviços de fintechs no Brasil, em relação à média mundial.

Perto de sete em cada dez brasileiros com idade entre 55-64 anos são clientes de fintechs, ao passo que, no mundo, esse número é de 55%. Adicionalmente, quase metade dos brasileiros com mais de 65 anos também são adeptos ao serviço, em comparação a apenas 44% do grupo em outros países. De acordo com o Nubank, pioneira do segmento de serviços digitais, somente no mês de abril, aproximadamente 30 mil usuários com idade superior a 60 anos abriram uma conta digital, parte desse resultado motivado pelo isolamento social devido à crise do Covid-19, fator que acelerou o aumento da demanda por esse tipo de serviço no país.


Na era da transformação digital, o uso de meios tecnológicos para a prestação de serviços, revolucionando o sistema operacional bancário, é outro ponto atrativo. De acordo com a pesquisa FEBRABAN de tecnologia bancária realizada em 2018, as centrais de atendimento dos bancos vêm se mantendo pouco utilizadas, ao passo que as operações pelos canais digitais internet banking e mobile banking crescem a cada ano, já representando um terço das transações bancárias. Os dados apresentados pelo gráfico abaixo, ressaltam uma forte migração para os meios digitais, revelando uma novo perfil de consumidor, mais adepto a lidar e usufruir dos serviços tecnológicos oferecidos pelas Instituições financeiras.

Além disso, o crescimento das Fintechs no país está diretamente relacionado a sua regulamentação. As primeiras startups a disponibilizarem esse tipo de serviço no país, atuavam totalmente isentas de controle ou fiscalização de seus respectivos órgãos. Somente em 2013, com o advento da lei12.865, foram estabelecidos os princípios e as normas regulamentadoras dos arranjos e instituições de pagamento, trazendo maior segurança aos players envolvidos nos negócios. Outro marco importante ocorreu em abril de 2018, quando o Conselho Monetário Nacional (CMN) regulamentou as empresas que operam na área de crédito. A principal mudança, nesse caso, foi a eliminação da necessidade de atuar em parceira com uma Instituição financeira tradicional, trazendo maior independências às empresas do setor.


Em meio a todo esse cenário, pode-se auferir que a entrada das Fintechs no mercado se tornou uma ameaça aos grandes bancos tradicionais, que por muito tempo foram os únicos ofertantes desses tipos de produtos e serviços, tornando o setor ainda mais competitivo. Todavia, isso não significa o fim dessas Instituições, que ainda mantêm uma posição de referência no mercado -oferecendo um catálogo mais completo do que seus novos concorrentes-, mas sim a necessidade de aceleração de seus processos de digitalização e implementação de novas estratégias em sua logística, no intuito de acompanhar o ritmo da fintechs, evitando o risco de se tornarem obsoletos por manterem um modelo tradicional.

De acordo com a Capital Research, a expectativa atual dos bancos é de crescimento, sustentado pelo aumento do crédito e pela continuidade do programa de redução de agências. Nos quesitos de tecnologia, as Instituições Financeiras tradicionais buscam a atualização das plataformas digitais, firmando parcerias e aquisições ou incubando suas próprias versões de fintechs. Como exemplos temos: o Itaú com a XP; o Bradesco com a Ágora; e o Santander com a PI Investimentos.


Ainda, a força das fintechs é tão grande que até mesmo alguns grandes bancos criaram suas startups para oferecer esse novo modelo de serviço aos seus clientes. O banco digital Next, por exemplo, foi criado pelo Bradesco. Representando uma mudança estrutural marcante nesse mercado que, no Brasil, sempre foi altamente concentrado.

O Nubank é um exemplo de sucesso que representa esse novo modelo de negócio. A startup pioneira no segmento de serviços financeiros, oferece cartões de crédito através de uma plataforma totalmente digital, sem anuidade e com taxas menores que os bancos. No ano de 2019, sua base de clientes aumentou exponencialmente, saindo de 5,9 milhões para 18,7 milhões, o que equivale a 40 mil clientes novos por dia ao longo do ano. Em 2020, a companhia anunciou que o número de clientes já superou 20 milhões. Outras gigantes do setor, como a C6 Bank, Neon, Banco Inter, também seguem em crescimento, disputando por espaço no mercado. No ano de 2019, as receitas anuais do banco Inter, atingiram R$ 1 bilhão de reais, crescimento de 39,8% quando comparado a 2018. Todo esse cenário indica que o setor se mantém crescendo em um ritmo forte e constante no país.


Em suma, temos que essa quebra de paradigma, pode ser bastante positiva, principalmente, se analisada sob a ótica do consumidor. O mercado menos concentrado e mais competitivo, traz mais opções ao cliente, e as empresas que antes dominavam o setor e se mantinham em uma posição confortável, terão que demandar mais esforços para se adaptarem a essa nova realidade. Além disso, essa mudança decenário também alterou a relação cliente versus bancos: os bancos tradicionais foram obrigados a encontrar maneiras de conversar com novos perfis de clientes de modo a não os perder para as fintechs.


Por fim, o contexto de pandemia em que se encontra o mundo, dará às fintechs um novo papel de protagonismo em um cenário pós-crise, uma vez que as startups financeiras surgem como uma alternativa importante em um momento de necessidade de liquidez e retração de crédito, disponibilizando empréstimos de maneira menos burocrática e com juros e taxas menores. Adiciona-se a isso o fechamento parcial de agências bancárias e financeiras, que têm acelerado a migração de cliente para os serviços digitais. Todo esse conjunto, pode indicar um cenário de consolidação das empresas desse setor nos próximos anos.

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