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Amazon.com


Em meio à crise do novo coronavírus, a maioria dos setores vem sentindo os impactos decorrente da nova pandemia. O isolamento social, o lockdown em diversos países, bem como a incerteza com o futuro impactaram muito nas receitas de diversas empresas. Entretanto, a Amazon, em meio a esse cenário, teve um bom desempenho no seu primeiro trimestre de 2020. A empresa teve um crescimento de 26% nas receitas totais, faturando US$ 75.5 bilhões em comparação aos US$ 59.7 bilhões do mesmo período no ano passado. Em razão dos resultados positivos, as ações da Amazon chegaram a valer US$ 2475, 30/04, elevando o seu valor de mercado para US$ 1.14 trilhão. Nas palavras de Jeff Bezos, CEO e cofundador da empresa, “a recente crise tem demonstrado a capacidade de adaptação e de durabilidade dos principais business da Amazon como nunca antes, ao mesmo tempo que o período é o mais desafiador para companhia”.

A empresa fundada em 1994, por Jeff Bezos, iniciou suas operações como uma varejista online de livros. Seu nome inspirado no maior rio do mundo, o Amazonas, serviu de referência para os objetivos da empresa: ser, no futuro, a maior varejista do mundo. Uma varejista que vendesse absolutamente tudo, de A à Z, exatamente como o logo indica de forma sutil. A empresa, que começou na garagem de seu fundador e veio a se tornar uma das companhias mais valiosas do mundo, teve seu sucesso graças a quatro princípios: a obsessão com o cliente (ao invés de focar na concorrência), a obsessão com inovação, o compromisso com o longo-prazo e o comprometimento com uma operação de excelência.

Como a Amazon ganha dinheiro?

A principal fonte de receita da varejista vem de seu e-commerce, que representa 50% das receitas totais. No setor de varejo online, a empresa responde por 50% das vendas nos EUA. O setor de compras em meio digital é tendência num mundo cada vez mais tecnológico e a empresa já bem posicionada e com vasta envergadura, tanto em logística, quanto em vendas no meio digital, possui uma vantagem competitiva em relação aos seus principais peers.

A empresa oferece ainda outros serviços como o Amazon Prime (6,8%), plano que oferece frete grátis para mais de 100 milhões de itens e disponibiliza acesso a plataforma de streaming da empresa, que dá acesso a milhares de filmes e séries de tv, bem como a conteúdos originais da própria Amazon. Além disso, outra fonte de receita é o Amazon Web Service (AWS), responsável por 12% do faturamento. O AWS fornece serviço de computação e armazenamento em nuvem. A empresa ainda fatura através da sua rede de supermercados, Whole Foods, adquirida em 2017 pela companhia.

Apesar de representar apenas 12% do faturamento, o AWS é o business mais rentável da empresa, respondendo por, aproximadamente, 60% do lucro operacional. Em 2019, as margens operacionais das vendas foram de apenas -2,27% e 4%, nas operações Internacionais e dos EUA, respectivamente; enquanto a margem operacional do AWS foi de, aproximadamente, 26%. A baixa rentabilidade no e-commerce da varejista advém, principalmente, do alto custo das operações relacionadas às vendas. Em 2019, esse custo representou 59% do faturamento total da empresa. O valor decorre, além do custo com o produto em si, da estratégia da Amazon de oferecer preços baixos aos clientes, o que inclui uma forte campanha de desconto em fretes e serviços mais rápidos de entrega. Dessa forma, a empresa consegue ganhar espaço no mercado, e a tendência é que esses custos diminuam conforme o volume de vendas aumente. Também resultam nas baixas margens, as despesas com fulfillment (operações e atividades ligadas ao atendimento ao cliente) responderam por 14,3% das receitas, tecnologia e conteúdo (12,8%, dos quais a maior parte é composta das operações do AWS), marketing (6,7%) e as despesas gerais e administrativas (1,9%).

O resultado negativo nas operações internacionais diminui ainda mais as margens em relação ao varejo e serviços não ligados ao AWS, que no total ficou próximo de 2%. O resultado das operações internacionais é reflexo do maciço investimento da Amazon em expansão logística e rede de atendimento (fulfillment), bem como do investimento em tecnologia e marketing. Apesar da performance negativa, nos últimos anos os prejuízos com a operação fora dos EUA vêm caindo, sobretudo, em razão do aumento no volume de vendas. Esse prejuízo mostra o comprometimento da companhia com o longo-prazo, e a melhora progressiva no resultado internacional demonstra que aos poucos a empresa está atingindo se consolidando no mundo inteiro.

Por que a Amazon não para de crescer?

Desde seu IPO, a Amazon se auto classifica como uma empresa de tecnologia, e não meramente uma varejista online. A sua capacidade de inovar e de desenvolver tecnologia, associado ao seu e-commerce, e a entrega dessa inovação para o cliente final são as principais fórmulas de crescimento da empresa. A capacidade da Amazon de inovar, ao longo dos anos, agregou inúmeras ferramentas ao e-commerce, capazes de entender melhor os padrões de consumo de cada cliente, oferecendo melhores serviços e produtos. Em 2014, por exemplo, a Amazon patenteou um sistema chamado “antecipatory shipping”. O sistema, basicamente, analisa diversos padrões de consumo dos clientes, desde quantas vezes o cliente pesquisou pelo mesmo produto até a movimentação do mouse pelo site. E baseado nisso, um algoritmo é capaz de calcular a probabilidade de o consumidor comprar ou não determinado artigo. Quando esse algoritmo estima uma probabilidade alta de compra, o produto é despachado antes mesmo de o cliente fazer o pedido. A patente foi capaz de revolucionar toda cadeia logística da empresa. Nesse setor ainda, a empresa foi pioneira no delivery de produtos através de drones, otimizando e acelerando ainda mais a rapidez com que os produtos saem dos centros de distribuição e chegam à porta do cliente.

Além disso, ocorreram diversas outras inovações trazidas pela Amazon, como o Kindle (livro digital), revolucionando a maneira como as pessoas leem e compram livros. Ou o One-button click, que realiza a compra de determinado artigo em apenas um click, otimizando e facilitando a maneira como as pessoas consomem online. A entrega da Alexa, assistente virtual da empresa, competindo com assistentes virtuais do Google e da Apple. A empresa foi pioneira em adicionar avaliações de consumidores sobre determinado artigo, ajudando milhares de clientes a decidir na hora de comprar online. Por fim, cabe ressaltar a inauguração em 2018 do Amazon GO, loja física da empresa sem funcionários nem filas. A loja 100% tecnológica, sob um modelo revolucionário no varejo, permite que o cliente entre, pegue os produtos da prateleira e saia da loja. O produto é debitado automaticamente do cartão do cliente, que é reconhecido facialmente pelas câmeras no interior do Amazon Go.

Além das inovações no varejo online, a empresa investe pesadamente em outros setores que estão alinhados com as novas tendências de consumo. Em 2017, a empresa comprou a Whole Foods, grupo de supermercados com uma pegada mais healthy. Com a aquisição da rede de supermercados, a Amazon se mostra atenta às preferências das novas gerações, que prezam por produtos mais saudáveis e de maior qualidade. Só o mercado de orgânicos, por exemplo, cresceu 11% no período entre 2000 a 2017, segundo dados do IPEA. Ao longo dos anos, a Amazon vem investindo no seu sistema AWS, que está alinhado com as tendências de armazenamento em nuvem. E, por fim, investiu na sua própria plataforma de streaming, que segue as tendências de como as pessoas consomem entretenimento cinematográfico. O segmento de streaming já gerou uma receita de US$ 20 bilhões ao longo de 2020. Nos Estados Unidos, a Amazon, por associar seu streaming com um serviço de frete grátis, pode ganhar maior competitividade no meio da atual guerra das plataformas de streaming.

Existem ainda outras milhares de iniciativas da companhia que visam inovar o varejo, revolucionar a maneira como as pessoas consomem ou gerar valor à sociedade. Com a extensão da companhia e de todos os seus projetos, a empresa se mostra focada em cumprir seu objetivo de ser literalmente uma loja de tudo.

Amazon no cenário do Covid-19

Em meio ao cenário do novo coronavírus, o mercado vem entendendo a importância da Amazon e sua solidez. Seus principais business tiveram grande importância nos últimos meses no combate à pandemia e foram capazes de se fortalecer no curto prazo:

E-commerce

No contexto do isolamento social e do lockdown em diversos países, a entrega de produtos foi de suma importância para manter as pessoas em casa, e, por consequência, diminuir o risco de contágio da população. A Amazon teve um grande aumento na demanda por produtos essenciais. E, por possuir grande know-how no setor de logística e centros de distribuição preparados para atender a alta demanda, a empresa saiu na frente de outras empresas que ofereceram o serviço de entrega nos Estados Unidos.

Amazon Prime Video

Com as pessoas passando mais tempo dentro de casa, os serviços de streaming tiveram grande procura, e com uma política de manter preços baixos, a Amazon foi capaz de captar grande parte dessa demanda. A companhia ainda, ciente de que milhões de crianças tiveram suas aulas canceladas, decidiu liberar todo seu conteúdo infantil gratuitamente a fim de estimular o isolamento social e ajudar no combate do vírus. Posicionando ainda mais a plataforma, em um meio já muito competitivo.

Amazon Web Services

O serviço de computação em nuvem está ajudando escolas e universidades a darem continuidade nas aulas por EAD em substituição às aulas presenciais. Diversos hospitais e empresas farmacêuticas estão usando o AWS para fazer pesquisas e auxiliar no cuidado de pacientes, como também na exploração de tratamentos mais eficazes contra o corona. O serviço de computação e armazenamento em nuvem ainda está sendo usado e auxiliando diversas instituições no combate ao vírus. O serviço, por exemplo, está ajudando o “Bakar Computational Health Sciences Institute”, da Universidade da Califórnia de São Francisco, na pesquisa para o sequenciamento do genoma do Covid-19, através de suporte técnico e doação de créditos de serviço. Com isso, a ciência será capaz de diagnosticar e tratar melhor o vírus.

Um dos maiores desafios da empresa, no atual cenário, está sendo conciliar a alta demanda com o bem estar de seus funcionários. Apesar de a Amazon dizer que está comprometida com a saúde de seus funcionários, a empresa está sofrendo graves acusações de negligenciar a saúde de seus empregados durante a pandemia. Diversos protestos e greves foram feitos ao redor do mundo, reivindicando melhores condições de trabalho e salário. Vale ressaltar que não é a primeira vez que a companhia é acusada de deixar o bem estar de seus empregados em segundo plano. Essa política agressiva da empresa já não cabe dentro dos valores do século XXI, podendo gerar crises de marca no futuro, caso não haja nenhuma providência a respeito.

Uma das preocupações de Jeff Bezos quando quiseram escrever sobre a história da Amazon, foi a “Falácia Imaginativa”. O termo, criado por Nassim Nicholas Taleb, explica como os seres humanos naturalmente tendem a transformar realidades complexas em histórias simplificadas. Esse pocket research não contempla toda a complexa trajetória da Amazon, cercada de inovações e desafios. Entretanto, nesse cenário, analisada de forma sintetizada ou não, a Amazon consegue confirmar ainda mais a solidez de seu business. Evidenciando, em meio ao cenário do covid-19, que as decisões da empresa se mostram comprometidas com seus princípios: inovar, focar no cliente, desenvolver uma empresa de longo prazo e o compromisso com uma operação de excelência. Conseguindo superar esse cenário, gerando valor para seus diversos stakeholders, a companhia se sairá mais forte no pós-crise.

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