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O futuro do Streaming: Netflix, uma página virada.


O acesso ao conteúdo de entretenimento áudio visual tem mudado drasticamente ao longo das últimas décadas sendo um assunto que muda a percepção de diferentes gerações. Muitos se recordam das fitas VHS e das locadoras que existiam por todos os lugares nas cidades, outros já cresceram utilizando DVD players ou a mais comum durante muitos anos e ainda usada nos dias de hoje, a TV a cabo. Era curioso pensar no que seria o canal sucessor a essas opções, e durante uns anos houve o candidato fracassado, o Blu-Ray Disc, que tentava cativar o público com alta definição de imagem e mídias muito difíceis de serem riscadas, porém, o verdadeiro se mostrou como sendo o acesso a conteúdo online. Oferecendo o poder de assistir a filmes e shows a hora que quisesse, pausar ou voltar e assistir a programas na ordem que se desejar, tornava-se atrativo demais para ser ignorado pelo mercado. A Netflix foi pioneira no ramo, uma empresa que disponibiliza um canal consolidado de diversos programas, filmes e shows para assistir online com alta qualidade de imagem e som por uma simples assinatura mensal. Era o nascimento dos serviços de Streaming.

Muita coisa mudou da criação da Netflix nesse mercado em 2007 até os dias de hoje. Durante esses 12 anos, a empresa seguiu como líder absoluta e com quantidade crescente de público, pois com uma única assinatura se tinha um catálogo de conteúdos de diversas produtoras. Ao mesmo tempo, se caracterizava como a maior inimiga da TV a cabo ao redor do mundo.

Esse enorme catálogo era proporcionado através de negociações simples com as produtoras, de forma que a Netflix adquiria o direito de distribuição ou de exibição por um certo período de tempo, passível de renegociação ou renovação, e ainda se podia adicionar mais do mesmo conteúdo na plataforma, por exemplo novas temporadas de uma série. Somado a isso, a provedora de streaming também iniciou uma longa linha de produção original, com séries e longas, totalmente feitos e distribuídos por ela. Em alguns casos, também comprava todos os direitos sobre algum programa se tornando a distribuidora exclusiva. Assim, criou o selo “Netflix Originals”, que somando tudo formava o maior catálogo de conteúdo audiovisual disponível no mundo.

A grande questão de analisar a posição na qual a Netflix se encontra, é tentar entender quais os possíveis rumos que esse mercado pode tomar, e a partir desse ponto, entender o futuro da distribuição de audiovisual no mundo. Nesse momento, alguns pontos muito importantes tem de ser identificados:

  1. Manter as estruturas de streaming é um modelo de negócio com custos operacionais e manutenção baixas

  2. Vivemos em uma época onde o público consumidor de certos programas são muito saudosistas e acabam se tornando consumidores fiéis de serviços em prol de dar suporte ao seu show favorito.

Essa situação cria um ambiente muito propício a um aumento da competição.

Ano passado houve um anúncio sobre a inauguração do serviço de streaming da Disney, intitulado “Disney +” o qual consiste em reunir todas as obras pertencentes à marca em um único lugar. A consequência disso é a remoção de todas a obras referentes à Marvel, Pixar, Fox, LucasFilms e da própria Disney do catálogo Netflix, a qual tinham altíssima aderência dos assinantes. Junto a isso, tivemos anúncios de investimentos massivos por parte da Amazon em verdadeiras super produções que já é do interesse do público. E ainda mais recente, neste ano, o anúncio do serviço do grupo Warner, que mais uma vez promoverá uma grande remoção de obras da Netflix, e ainda terá a presença dos conteúdos da HBO, oferecendo outra grande gama de shows aclamados.

Com estes fatos, podemos ver a tendência de cada vez mais produtoras que antes vendiam direitos para Netflix passarem a optar por elas mesmas abrirem seus serviços, motivadas pelo saudosismo de consumidores e baixos custos de operação dessa natureza. A longo prazo, essa tendência promove uma descentralização dos conteúdos em apenas uma única assinatura de streaming. A Netflix torna-se uma opção bem menos atraente, pois só lhe restariam suas obras originais, que nos últimos anos atingiram uma das menores aceitações por parte dos espectadores, fato que pode ser uma das justificativas para a queda de mais de 100 mil assinaturas, somente no território americano, no segundo trimestre de 2019, relatada nos últimos reports divulgados pela empresa, enquanto o guidance estimava um aumento de 300 mil assinantes.

O livre mercado sempre aparece para aumentar o número de serviços e muitas vezes a qualidade destes aos consumidores, e de fato, nesta situação, em específico, é muito provável que o número de produções vá aumentar em um futuro próximo. Porém, com a descentralização de uma única plataforma contendo a maioria do conteúdo mundial, o consumidor provavelmente terá de passar a desembolsar uma quantidade relativamente maior de dinheiro para continuar tendo acesso a todos os conteúdos favoritos, o que pode significar um novo boom da pirataria. Com o download desses filmes, séries e programas, algo que após o desenvolvimento dos serviços de streaming ao redor do mundo, havia iniciado uma tendência de queda graças às comodidades que uma única assinatura dos serviços em questões ofereciam em relação a facilidade ao acesso do conteúdo. Este movimento algo que dificilmente aconteceria com serviços de streaming musicais como Spotify e Deezer, por exemplo, por tal dinâmica de competição não funcionar da mesma forma.

Tendo em vista os aspectos mencionados, o que podemos esperar para o futuro é um mercado de streaming muito mais pulverizado, com as séries e filmes que o consumidor quer ter acesso como principal motivador para escolha de assinatura a se ter na fatura ao fim do mês. E dentro desse contexto, quem sai perdendo é a Netflix, sujeita ao maior êxodo de assinantes de sua existência, e talvez também o consumidor, que mesmo com a existência de mais conteúdo, agora passará a ter menos acesso a eles com a mesma quantidade de dinheiro, sendo obrigado a acumular cada vez mais assinaturas diferentes para ter acesso a conteúdos de produtoras diferentes. A magia do acesso ao audiovisual em apenas um único lugar por meio da Netflix ficará para trás, assim como os VHS, os CDs, os DVDs e a TV a cabo.


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