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Crônicas de um fim de ciclo anunciado


1973 pode ser considerado um marco histórico na economia mundial: foi o ano em que os países produtores de petróleo conseguiram mensurar e entender o poder que tinham em mãos.

No desenrolar da Guerra do Yon Kippur, a recém-criada OPEP entrou em ação quando os EUA resolveram apoiar Israel na guerra. A OPEP optou, então, por provocar a primeira crise global do petróleo, com a repentina queda da produção e aumento exponencial dos preços.

Desde então, o preço do petróleo nos últimos 40 anos passou por uma substancial valorização, chegando ao valor de US$ 140 em 2008. Entretanto, no desenrolar dos últimos anos tivemos alguns fatores que contribuíram para a excessiva queda do preço do petróleo , tendo este chegado a ser cotado abaixo de US$ 30. A pergunta que fica é: O ciclo do petróleo chegou ao fim? O atual cenário do petróleo pode ser explicado por 3 fatores.

A desaceleração global – é possível dizer que a dinâmica econômica mundial foi rompida com a crise de 2008. A veloz propagação da crise que atingiu principalmente Estados Unidos e Europa, aos poucos chegou à China, e impactou diretamente no preço do petróleo. Na ultima década a China cresceu na faixa de dois dígitos ao ano através de dois pilares: Investimentos em infraestrutura e exportações, como é possível ver no gráfico.

Dentro desse modelo econômico, a China gerava boa parte da demanda mundial por petróleo, algo que contribuía para a alta dos preços. A crise de 2008, que começou a refletir no crescimento econômico chinês a partir de 2012, gerou uma necessidade de rebalanceamento do modelo, migrando de uma economia baseada em investimentos e exportações, para um modelo baseado no consumo interno. Dentro desse cenário, o rebalanceamento econômico chinês faz com que hoje, o mundo tenha uma demanda menor por petróleo.

O excesso de oferta e a guerra com os produtores de gás de xisto – Dados da Agência Internacional de Energia indicam que atualmente o volume de petróleo estaria em 300 milhões de barris anuais acima da demanda global.Isso pode ser explicado pelo fato de que a oferta de petróleo vem aumentando por causa do crescimento da produção mundial, das novas técnicas de exploração tais como o Shale gas, Shale oil e Pré-Sal.

Além disso, a OPEP vê os Estados Unidos como uma forte ameaça, tendo em vista que devido à produção de óleo de xisto os EUA tornaram-se o maior produtor de petróleo do mundo. Sob este cenário a OPEP optou por não reduzir a produção, e deixá-la nos níveis recordes para evitar que o óleo de xisto americano ganhe mercado, pois este ainda possui preço de extração mais caro.

Para piorar o cenário do petróleo, o acordo nuclear realizado entre EUA e IRÃ prevê o fim das sanções ao país e com isso o petróleo Iraniano voltará ao mercado, contribuindo ainda mais para o aumento da oferta.

Porém, a medida de manter alta a produção de petróleo teve pouco efeito – o custo de produção do xisto é relativamente baixo. Com a ação da OPEP, os primeiros a serem levados para fora do mercado foram o Brasil (com o pré-sal) e Rússia, que possuem altos custos de exploração. Já o xisto – cuja produção é feita em sua maioria por empresas de pequeno e médio porte com baixo investimento de retirada do óleo – mostra-se uma alternativa bem flexível a variação de preços do barril, uma vez que ao sinal de que a commodity se mantenha em patamares de US$30 para cima, os produtores de xisto voltam a figurar como concorrentes no mercado.

Desta maneira, a OPEP se vê obrigada a manter os preços do petróleo a valores muito baixos para manter seu alto market share.

Aumento do uso de energia renovável – chegada do termo ‘’desenvolvimento sustentável’’ é outro fator que contribui para o menor uso do petróleo.

Com o aumento do número de pesquisas no fim do século XX indicando os malefícios do uso do petróleo, a comunidade internacional passou a se organizar para iniciar um processo de conscientização mundial acerca dos problemas das matrizes energéticas.

Já é possível observar resultados. Países altamente industrializados como a Alemanha já contam com um percentual de 25% de energia limpa e Estados Unidos 13%.

Um levantamento mundial da Bloomberg indica que somente em 2014 houve crescimento de 20% no uso de energia solar e eólica no mundo.

François Hollande em seu discurso de encerramento da Conferência de Paris sobre o Clima declarou que ‘’estamos começando a ver o fim da era do Petróleo’’. Parece, portanto, que assim como Santiago Nasar, personagem da famosa obra crônicas de uma morte anunciada de Gabriel García Márquez, o ciclo do petróleo estava com sua morte anunciada desde o primeiro momento. Todos sabiam que esta iria ocorrer, cedo ou tarde. Apenas esperávamos quando ela se concretizaria.


Artigo publicado em março/2016 na 12ª edição da Markets St.


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