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Dívidas: um outro ponto de vista


Empréstimo. Solução imediata, e cara, para resolver um problema financeiro de curto prazo, mas cujo fardo pode perdurar por longos anos.

A linha acima traz a visão clássica sobre empréstimos, da ótica do brasileiro médio. Pegar dinheiro emprestado é algo visto com maus olhos e essa ideia é compreensível, até pelo baixo nível educacional da população em geral, que possui muita deficiência na gestão financeira pessoal, e acaba por utilizar empréstimos de maneira equivocada. Ressalte-se ainda a condição econômica do país, que passou por cenários de inflação e taxa de juros altas nas últimas décadas.

Até alguns investidores, que em tese possuem conhecimento de finanças um pouco mais elevado, levam essa ideia na hora de avaliar empresas e aportar seu dinheiro. É recorrente ver investidores analisando níveis de endividamento e optando por empresas menos endividadas, sem tentar entender o contexto por trás dessa situação. O mesmo vale para empresários, que optam por não contrair empréstimos pelo ideal de não endividar suas empresas.Empréstimos, entretanto, podem ser benéficos para empresas. São três pontos principais a considerar.

No Brasil, a taxa de juros básica, a Selic, sempre foi consideravelmente alta e operava acima dos 14% ao ano até o final de 2016, a partir de quando, após sucessivos cortes, chegou a 6,5% nos dias atuais, o menor patamar da história. A queda da Selic se traduz em um estímulo à economia. Ora, se uma companhia consegue se financiar junto a um banco a uma alíquota de 6,5%, e tem um retorno sobre o capital investido (ROIC) de 10% na sua operação, ela terá um ganho financeiro e poderá alavancar sua operação e se expandir, podendo até investir para melhorar seu ROIC. Por que não o fazer?

Um outro ponto importantíssimo é o chamado benefício fiscal da dívida. Esse benefício fiscal ocorre porque os juros decorrentes de empréstimos podem ser deduzidos para o cálculo do imposto de renda. Assim, se uma empresa pega um empréstimo de 1 milhão, com juros de 10% ao ano, ela deverá pagar 100 mil de juros. Por outro lado, ela terá 34% (alíquota do Imposto de Renda) desse valor de abatimento no imposto a pagar, ou seja, 34 mil reais, já que os 100 mil são dedutíveis para a base de cálculo do imposto. No fim das contas, é como se a empresa tivesse um custo de 66 mil, ou pagasse 6,6% de juros.

Dessa forma, o custo da dívida, ou Kd, tenderá a ser, via de regra, menor que custo do equity, ou custo do capital próprio, o Ke. Ainda mais no Brasil, onde, conforme já comentamos, a taxa de carrego costuma ser alta, resultando em um Ke mais elevado devido ao alto custo de oportunidade para os acionistas.

Pense! Porque alguém investiria em uma companhia que performa a um ROIC de 10%, com a SELIC estando acima de 14%, sendo que o investidor poderia obter essa rentabilidade de mais de 14% praticamente livre de riscos? Devido a esse custo de oportunidade, os acionistas demandam um prêmio para investir no patrimônio líquido da empresa, e o custo do equity (Ke) fica alto!

A consequência disso é que o custo de capital médio ponderado (WACC), uma média ponderada entre o Kd e o Ke, tende a diminuir conforme uma empresa capta dívida. Sim! Ao tomar um empréstimo, a empresa é capaz de reduzir o seu custo de capital.

Por fim, sucintamente, é bastante razoável pensar que companhias endividadas tendem a ter mais responsabilidade e disciplina na tomada de decisões, já que elas lidam com dinheiro de terceiros e precisam estar com a operação eficiente afim de ter condições de pagar todas obrigações e ainda quitar a dívida no futuro.

Nem sempre empréstimos são algo negativo, pelo contrário. Sendo bem utilizados, e em condições econômicas favoráveis, os empréstimos podem colaborar para alavancar a operação da empresa, para diminuir o custo de capital e até para otimizar a gestão da mesma!


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